Ana Moser, ministra do Esporte, gerou polêmica ao conceder uma entrevista e dizer que não pretende investir nos esports já que, segundo ela, “eles fazem parte da indústria do entretenimento, não do esporte”.
“A meu ver, o esporte eletrônico é uma indústria de entretenimento, não é esporte. Então, você se diverte jogando videogame, você se divertiu. Ah, mas o pessoal treina para fazer. Treina, assim como o artista. Eu falei esses dias, assim como a Ivete Sangalo também treina para dar show e ela não é atleta da música. Ela é simplesmente uma artista que trabalha com entretenimento. O jogo eletrônico não é imprevisível. Ele é desenhado por uma programação digital, cibernética. É uma programação, ela é fechada, ela não é aberta, como o esporte”, disse a ex-jogadora de vôlei durante a entrevista.

Como era de se esperar, a fala rapidamente causou furor na comunidade gamer, que não demorou para ironizar sua declaração que justifica o não caráter esportivo dos esports pela falta de árduos treinos físicos e imprevisibilidade.
Jaime Pádua, cofundador da FURIA, uma das maiores organizações brasileiras de esportes eletrônicos, se manifestou dizendo:
“De fato, os esports são diferentes dos esportes, mas por motivos diversos dos apontados pela ministra, como, por exemplo, por suas bases fundadas em propriedades intelectuais de empresas privadas. É triste ver uma argumentação atrasada que deprecia o valor competitivo e de performance dos esports em relação a esportes tradicionais.”
Bruno “Nobru”, brasileiro que já foi considerado o melhor jogador de Free Fire do mundo, escreveu em suas redes sociais:
“Senhora ministra, eu queria falar em nome de todos os atletas de esports, que são muitos, aliás, que esports é um esporte sim! Acho que fazer a comparação que você fez é ignorar todo processo que a pessoa tem de preparo físico e mental para disputar uma competição.”
Já Rafael “Rafifa” Fortes, atleta e gerente de relacionamento da equipe Netshoes Miners, refletiu sobre a possibilidade de uma argumentação que ajude no desenvolvimento dos jogos eletrônicos no cenário esportivo atual:
“Acredito que o debate deve ser sempre o caminho para trazermos o Governo de forma benéfica para poder somar, explorar e ajudar a desenvolver os esports dentro de um contexto nacional. A senhora ministra tem pontos no seu discurso, sobretudo sobre a diferença de construção do esporte tradicional e dos esportes eletrônicos.”
Em 18 de agosto de 2022, o presidente Lula escreveu em seu Twitter que “videogame não é apenas entretenimento, é também cultura, emprego e desenvolvimento tecnológico.”
Leia também: diferença de esports e jogos eletrônicos.
Vale lembrar que na Câmara e no Senado há projetos de lei em tramitação que se referem à regulamentação dos esportes eletrônicos no Brasil, como o PLS 383/2017, que caracteriza como “esporte as atividades que, fazendo uso de artefatos eletrônicos, caracteriza a competição de dois ou mais participantes, no sistema de ascenso e descenso misto de competição.”
Outras atividades como xadrez, bridge, damas, go e poker são considerados esportes da mente pela IMSA (International Mind Sports Association) e, quem já acompanhou uma partida, sabe que nestas modalidades os jogadores não correm e nem saltam; porém, o esforço é totalmente mental.