Como já sabemos, o primeiro dos três Majors de Dota deste ano chegará pela primeira vez na história à América do Sul, tocando, no final de fevereiro, terras pertencentes ao antigo Império Inca, no Peru. E, é claro, qualquer pessoa que conheça o cenário competitivo de Dota, saberia que o país vizinho é, literalmente, uma potência mundial no moba da Valve, chegando longe em vários campeonatos e, inclusive, sendo o país que mais mandou representantes para o último The International em Singapura.
Reprodução: 4D Esports/Twitter
No entanto, por mais que o crescimento dos últimos anos no mercado de esports tenha sido significativo no Peru, e na região como um todo, chegar ao patamar de um campeonato como um Major não é nada fácil. Desta vez, tivemos a oportunidade de conversar com Alonso “Gijex” Martinez, produtor geral e diretor de arte da 4D, empresa responsável pela pré-produção e realização do Lima Major e todos o conteúdo relacionado.
É importante considerar que a 4D não é uma produtora de eventos qualquer, mas uma empresa com vasta experiência dentro do cenário de Dota, sendo os responsáveis pela organização também da DPC SA desde novembro de 2021 a julho de 2022, entre vários outros projetos. Sem contar que o próprio Gijex (e parte da equipe da 4D) é observador oficial do The International à várias edições, estando presencialmente na produção do campeonato desde a nona. Passamos a entrevista:
Quais são as principais dificuldades de levar um evento da magnitude de um Major para o Peru?
Um Major no Peru já está para acontecer a anos, pelo menos desde a realização do The Final Match, em 2017, mas a questão é, claro, a dificuldade da infraestrutura e do investimento. Se comparamos, falando especificamente de dinheiro, a quantidade que empresas peruanas, ou mesmo sul-americanas no geral, investem em campeonatos de esports relativa àquela posta em jogo por empresas estrangeiras é incomparável. Em relação à infraestrutura, existem pouquíssimos lugares apropriados para um evento como esse, para não dizer que são inexistentes.
Realizamos um estudo de todas as possíveis propostas de lugares, previa a escolha da Arena 1, e realmente não existe atualmente um lugar perfeito no Peru. E, claro, preparar um lugar do zero é um investimento caro demais.
Porque foi escolhida a Arena 1 e não o Coliseu Eduardo Dibós, lugar onde foi realizado o The Final Match?
Principalmente pelo tipo de infraestrutura necessária para acomodar um Major. Os requerimentos para uma competição desse tamanho, para dar exemplo, são de um lugar que consiga aguentar, pelo menos, 20 toneladas em telas multimídia. Isso é mais ou menos três vezes mais do que qualquer outro evento do estilo já feito aqui no Peru.
A Arena 1 é muito maior, suportando, lotada, até 15 mil pessoas, enquanto no Dibós entrariam, no máximo, 4500 pessoas. Isso nos dá mais espaço para construir os arcos necessários para o que queremos fazer. Mas não é só o espaço em si. A Arena 1 também tem uma forma que se presta muito para uma experiência em 360 graus, e com isso, o público poderá aproveitar muito mais o evento.
Esse evento, na sua opinião, consegue mudar o chip das pessoas e trazer cada vez mais produções para o país e a região?
Acredito que sim. A última competição grande que tivemos foi a quase seis anos e, desde lá, os próprios jogadores estrangeiros, como o Loda, por exemplo, que na época jogava para a Alliance, deram declarações falando como o eles tiveram uma experiência incrível com a torcida aqui, mesmo não sendo parte de times considerados “principais”.
Assim como o brasileiro tem o CS no sangue, o peruano tem o Dota, e todos os times são apoiados aqui como se estivessem jogando em casa, não só dentro da arena, mas na rua, em restaurantes, nos hotéis etc. Acho que a experiência aqui é muito bonita, até mesmo quando comparada com campeonatos lá fora, a nossa torcida se destaca muito. A nossa paixão pelo jogo, sem importar necessariamente o time, é absurda. Tenho certeza de que principalmente os jogadores vão levar uma memória muito bonita daqui, e o Major de Lima mostrará, sim, que o Peru é uma das “Mecas” quando se fala de Dota 2.
E como é ser parte da produção de algo que vocês vêm trabalhando a tanto tempo? O que vocês realmente esperam desse campeonato?
Muita gente vem me perguntando se estou ansioso e emocionado. Sinceramente, como fã, eu estou muito emocionado, mas como trabalhador, como parte da 4D, obviamente é um estresse. É um estresse que não vai acabar até o último fã sair da Arena lá no final de tudo, e só então eu vou poder parar e sentir a realização de tudo que aconteceu. Desfrutar que, finalmente, aconteceu um evento assim, e que fui parte dele.
Tenho a benção de poder dizer que pude participar da produção do TI 9, 10 e 11, e vi, em primeira mão, a maneira como as coisas funcionam lá, o fluxo de trabalho, a maneira correta de administrar as coisas, com meses de antecedência se for necessário, e grande parte do meu time teve uma voz na produção de um dos maiores de videogames campeonatos do mundo. Nós aprendemos muito e acreditamos ser capazes de trazer parte disso para cá, em menor escala, claro.
A 4D tem gente de todas as áreas, desde criativos, administradores, técnicos audiovisuais, e todos nós estamos nos juntando para poder estar de igual para igual com qualquer outra Major havida e por haver. Temos profissionais que, talvez, nunca se viram trabalhando com esports, mas que entendem a magnitude desse evento e estão dando tudo de si para continuar botando carvão no motor dessa locomotiva. Tenho um bom pressentimento.
A melhor maneira, na minha opinião, de dizer se um evento teve sucesso ou não é analisando a maneira que os pequenos erros, que sempre acontecem, são resolvidos. Isso não quer dizer que eles não vão existir, senão que sejam resolvidos de maneira que o público nem se dê conta. Essa é a minha maneira de medir o sucesso de um evento.
A pouco mais de um mês da abertura das portas da Arena 1, as primeiras quatro mil entradas para o evento, das oito mil previstas, foram vendidas em menos de uma hora. O Major de Lima acontecerá entre os dias 22 de fevereiro e 5 de março e trará times de todo o globo, para o primeiro, e possivelmente, mais significativo, Major do ano. Nos vemos lá!