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Jojotodynha, dentro da Arena CBLOL, mostrando toda a sua torcida para a LOUD
Jojotodynha, dentro da Arena CBLOL, mostrando toda a sua torcida para a LOUD – Fonte: Reprodução

O poder da comunidade, no mundo dos Esports, é algo incrível. Não importa o jogo, vemos o quanto as pessoas estão envolvidas. Nós, brasileiros, somos conhecidos por nosso amor nos esportes. E, quando pensamos nos Esports, tal paixão continua bem forte e presente. Para entender os impactos da comunidade, conversamos com um dos nomes mais presentes no mesmo, a Jojotodynha.

A Jojo é muito conhecida no meio do League of Legends, por conta da sua torcida dentro da LOUD. Além disso, ela faz parte da The Union, como Comunity Manager, ficando ainda mais marcado como uma pessoa presente dentro dos Esports. Confira a entrevista abaixo, para saber mais sobre a Jojo e do poder da comunidade.

“Eu queria me aproximar e entender mais do cenário”

Antes de entender sobre a comunidade, o mundo dos Esports e afins, é importante saber mais sobre as pessoas em si. E o caso da Jojo vai um pouco além. Como vai ser visto abaixo, ela começou como apenas uma torcedora e foi ganhando relevância dentro do cenário. Ou seja, o seu começo é bem interessante e importante de saber, para conseguirmos compreender os motivos de ter chegado onde chegou:

“Bem, o meu nome é Jordana, tenho 22 anos. Eu comecei na área de jogos por conta do meu ex-namorado. Ele gostava muito do CBLOL estava sempre assistindo e ele era um torcedor fanático pela paiN Gaming. E, por conta do nosso relacionamento, eu comecei a acompanhar um pouco mais esse mundo.

Porém, não eu ainda não estava tão presente no cenário. Depois de tempo, veio a pandemia, a gente terminou, e aí eu fiquei um tempo sem acompanhar nada. Porém, toda vez que eu ia estudar – inclusive, essa é uma história muito engraçada – aparecia um comercial do LoL.

Na época, eu fazia cursinho e era online. As vídeo aulas eram no YouTube a toda propaganda era do League of Legends. Aquelas que chamavam a gente para jogar e falava como o jogo era fácil, etc. Na época, isso me estressava, porque era toda hora e tinha que ficar esperando para poder pular o comercial.

Contudo, em um belo dia, eu virei e falei: ‘Quer saber? Vou baixar logo e vou tentar jogar esse negócio. Não é possível que aparece tanto para mim, deve ser um sinal divino.’ E, de fato parecia ser divino. No meio da pandemia, eu tive uma depressão ferrada. Eu não conseguia fazer nada, tinha crises de choro, ficava muito sem meus amigos.

E, por conta do LoL, fui me reaproximando de pessoas, conversando com uma galera. Fui arrumando amigos que gostavam das mesmas coisas que eu. Além disso, começar a usar mais o Twitter e a participar dessa comunidade, que eu tanto amo e luto.”

Como falamos antes, a Jojo é uma personalidade muito forte, mas é ainda mais presente dentro da LOUD. A organização entrou no League of Legends no início das franquias, em 2021. Ou seja, a sua história, no CBLOL, é bem recente, porém com uma torcida forte. A Jojo contou como foi que começou esse amor todo pela Verduxa:

Então, eu já acompanhava a LOUD por conta do Free Fire. Na época, era o único jogo que eu realmente jogava e gostava de assistir. E aí passou um tempo e teve esse caso que eu contei antes, do meu ex-namorado. Como ele era muito fã do CBLOL e da paiN, nós fomos ver a Grande Final de 2015, no Allianz Parque.

Só que eu nunca fui muito ativa, eu assistia lá o meu Free Fire, bem normalzinho e ótimo. A medida que foi passando o tempo, veio a pandemia e com a pandemia eu tive um contato muito grande com o LoL. Eu jogava o tempo inteiro, estava com os meus amigos o tempo inteiro no Discord.

Se eu não estava jogando, estava assistindo alguém jogar. Com isso, eu fui criando um vínculo com a criação de conteúdo, eu gostava muito de assistir os vídeos e só foi crescendo em um nível grandioso. Tipo, se eu for torcer por um time, tem que ser um time que eu consumo algo. Tem que ser um time que ofereça coisas que eu gosto.

E, no meio de tudo isso, tinha a LOUD. Eu assistia os vídeos deles 24 horas, não importava o horário, manhã, tarde, noite. Muitas vezes, eu ia dormir assistindo vídeo, eu gostava muito dos jogadores da primeira line de LoL da LOUD. Foi como tudo fosse combinado. Tudo encaixando certinho, para que realmente eu fosse torcer assim.

Aí quando o CBLOL retornou com torcida presencial, nos estúdios da Riot, eu pensei: ‘Cara, eu vou tentar achar outras pessoas que também gostam da LOUD, que também estão ali tipo e que tão naquele naquele ambiente para se tornar meus amigos’.

Eu queria me aproximar e entender mais do cenário. Só que, quando eu cheguei por lá, acabei me surpreendendo. Eu não sabia que eu já era tão fã assim. Quando eu cheguei, muitas pessoas chegavam em mim e diziam que eu era muito fã e tudo mais.”

No início do CBLOL, poucas pessoas comentavam da torcida da LOUD. Eles eram bem presentes nas redes, mas presencialmente havia certas falhas. Durante a Grande Final do CBLOL, de 2022, no segundo split, onde a LOUD enfrentaram a paiN Gaming. Na ocasião, a torcida da paiN era avassaladora, dominando com uma proporção de 90/10.

Agora, a torcida da LOUD rivaliza, em pés de igualdade com muitas outras torcidas. Sua presença é imensa e possuem uma voz muito presente. Jojo contou como foi participar desse crescimento e o sentimento de participar disso:

“Então, antes da final de 2022, lá no Ginásio Ibirapuera, mais ou menos quando a LOUD chegou na fase dos playoffs, abriu a venda de ingressos para a final. Eu vi que os torcedores da paiN estavam se organizando, falando que eles iriam querer se concentrar em determinados blocos. Além disso, ainda havia outros blocos com concentração de torcedores da RED, porque ainda não havia definição dos finalistas. Nesse momento, eu pensei: ‘Como assim, a gente não tem um bloco de torcedores da LOUD? Não é possível.’.

Essa torcida é tão grande na internet, não era possível que a gente não iria ter 10 pessoas, para se juntar num bloco. Então, por coincidência, eu estava envolvida com isso e estudando mais sobre Comunity Manager. Fui entendendo mais sobre a comunidade e que aquele ali era meu espaço, era meu lugar. Eu amava estar envolvida com isso e estava vendo como aquilo fazia parte de mim.

Então, despretensiosamente, eu fui ao Twitter e fiz um post chamando o pessoal para se juntar no Ibira. Na época, o time da LOUD não estava tão bem e muitos duvidavam deles. No primeiro split, eles ficaram de fora dos playoffs e no segundo estavam apostando no Croc e Brance. Então, eu fiz um post da seguinte forma:

‘Gente, o que vocês acham da gente fazer um bloco da LOUD? Eu pensei nesse bloco e seria legal se todo mundo comprasse no mesmo. Vamos tentar nos concentrar, para que possamos nos conhecer.’

Me lembro ainda que coloquei entre parenteses que, se a LOUD não se classificasse, a gente ia aproveitar para fazer amizade, ao menos. Eu, Jojo, estava bem confiante no time, acreditei até o fim. Contudo, tinha outras pessoas desacreditadas, por isso que eu coloquei, para evitar o pessoal ficar me xingando.

Só que eu não esperava a proporção que tomou. A torcida da LOUD chegou em peso, dando RT, comentando que a minha ação era muito boa, me parabenizando pela atitude. Com isso, eu fiz um esquema. Eu comprei o meu ingresso e muitos outros. Minha ideia era dar os ingressos para pessoas que queriam ver a LOUD no stage.

Minha intenção foi de juntar com uma galera, para não assistir sozinha. Queria fazer amigos, torcer junto, assistir o nosso time jogar. Contudo, a medida que o tempo ia passando, as pessoas não estavam aparecendo. Então eu dei a minha cartada final e comecei a ser mais ativa, chamando o pessoal. Com isso, as pessoas foram surgindo, combinando de encontrar e formar uma torcida. No fim, mesmo sendo poucos, a gente fez muito barulho.

Torcida da LOUD, mostrando toda a sua força, dentro da Arena CBLOL
Torcida da LOUD, mostrando toda a sua força, dentro da Arena CBLOL – Fonte: Reprodução

E a Jojo não fica presa apenas do League of Legends. Quando aconteceu o LOCK//IN, em São Paulo, a mesmo estava presente. Sua torcida apaixonada, chamou a atenção de muitas pessoas. Diversos veículos entrevistaram a torcedora, enfatizando o seu amor pela LOUD. A Jojo contou como foi essa participação no LOCK//IN, que era um jogo completamente diferente:

“Sendo bem sincera, foi uma participação bem complicada. Eu sofri muito hate depois, porque as pessoas começaram a me xingar, falando que eu tava gritando para aparecer. Sendo que, na verdade, eu nem lembro direito. Eu estava com os meus amigos, torcendo normal, igual eu fazia nos stage do CBLOL.

Inclusive, no CBLOL, a torcida tem esse costume de gritar mais. Não são apenas os loudetes, a torcida de todos os times gritam muitos, paiN, RED, VKS. Todos estão acostumados e para mim é algo normal. Então, eu assustei muito com a repercussão que tomou no LOCK//IN.

Esse jeito de torcer é o que a gente mais vê no futebol. Porém, nos Esports é mais dificil ver isso. No LOCK//IN, os meus gritos estavam tão alto, porque colocaram o microfone perto de mim. Eu não tinha visto, me contaram depois. Se for comparar, eu estava gritando na mesma intensidade que no CBLOL. Não era nada exagerado.

Eu me considero uma pessoa muito intensa. E quando eu assisto a um jogo de tiro, acabo ficando ainda mais tensa. Porque as coisas acontecem muito rápido. Um tiro errado pode ser definitivo e acabar com um mapa. Isso me deixa bem tensa e acabo me extravasando bastante.

Na época, eu sofri um hate absurdo e até ameaças de morte, com o meu endereço. Nem sei como conseguiram ele. Então, a minha experiência com o VALORANT, não foi tão boa assim de início. Eu me assustei muito porque eu tava tomando um hate em algo que faz parte de mim.

Acho que a comunidade do VALORANT não estava acostumada com isso. Querendo ou não, ela é bem nova e está sendo moldada. Tem muita coisa para acontecer e tudo que aparece lá, é algo novo. Acho que é normal eles se assustaram, mas a tendência é se acostumar. Por conta disso que eu digo que a minha experiência no LOCK//IN assustou.”


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O hate é algo que afeta muito as pessoas. No cenário dos Esports, os jogadores têm assessoria psicológica, com profissionais especializados. Agora, uma torcedora sofrer isso, é algo a se preocupar. Então, a Jojo contou um pouco mais como foi o caso e como ela lidou com isso:

No começo, isso me afetou muito, principalmente no final de semana seguinte do LOCK//IN. Tanto que eu nem apareci por lá, fui para o CBLOL. Eu estava com muito medo de aparecer. Inclusive, no CBLOL mesmo, eu me sentei no fundo, fiquei quietinha, sem gritar, falar nada, fugindo de tudo.

Eu chorei bastante, eu fiquei bem mal, mas com tempo eu comecei a entender que não importa o que aconteça, as pessoas vão te julgar. Se você fizer ou se não fizer, eles vão te julgar. As pessoas elas criam uma visão de você, que é a visão que aparece lá na frente das câmeras e tomam isso como a maior verdade.

Então, não tem como eu controlar o que as pessoas vão idealizar na cabeça delas sobre mim e sobre o que vai acontecer. O que eu tenho que fazer, é mostrar para elas a minha pessoa de verdade. No começo, esse caso me pegou muito, mas hoje em dia eu tô sabendo lidar melhor com isso.

Quando algo parecido começa a aparecer novamente, eu já sei como lidar e fico mais tranquila. Cada um tem a sua ideia e às vezes a pessoa idealizou uma coisa e não necessariamente essa coisa vai acontecer. O que você pode fazer é transformar a ideia que essas pessoas tem de você e mostrar para elas a realidade, sendo bem franca.

O amor pela comunidade levou a Jojo em outros patamares. Ela não é apenas um rosto da torcida da LOUD. Hoje em dia, ela é Community Manager pela The Union. Ou seja, toda sua participação levou ela a trabalhar, ativamente, em algo no qual ela era reconhecida. Com isso, a Jojo contou como foi essa entrada na The Union e a importância de estar trabalhando com isso:

“Foi extremamente importante estar trabalhando ativamente com a comunidade para conseguir essa vaga. Porque ter o conhecimento que eu tenho hoje em dia, de comunidade, não é um conhecimento que você adquire só em curso. Eu comecei a fazer vários cursos, realmente eu já tinha toda uma idealização.

Sempre gostei muito de estar no meio das pessoas, mas todo esse meu conhecimento de comunidade presencial obtive ao estar ali, na frente das pessoas. Organizar as coisas me ajudou muito a entender como as comunidades gostam de ser tratadas. Como que você pode criar conteúdo. Até porque, eu via muita gente conversando sobre a criação de conteúdo, o que eles gostam ou o que eles não gostam.

E não é dizer que o meu conhecimento seja só da LOUD. Eu acabei me tornando amiga de muita gente no CBLOL. Por exemplo, a minha melhor amiga é torcedora da paiN. Conheço um monte de gente, de diversas torcidas, seja da LOUD mesmo, RED Canids, paiN, Vivo Keyd Stars.

Esse contato com eles me permite ter essa troca de informação. De saber o que eles estão gostando, o que eles não estão gostando e entender o cenário, a comunidade de uma forma muito mais ampla. Mais do que os cursos que tem no mercado. Normalmente, esses cursos prometem uma ‘regra do sucesso’, mas é esse contato que as pessoas precisam ter.

Interagir com as pessoas te ajuda a entender o que esta funcionando e como está funcionando. Vai muito além de um curso online, feito por uma pessoa que não conhece tanto sobre o que você quer em específico. Por isso que eu digo que, esses anos todos sendo ativa com a comunidade me ajudou, tanto que hoje estou na The Union, como Comunity Manager.”

Torcida da LOUD em Recife, recepcionando os jogadores da LOUD no aeroporto, para a Grande Final, contra a paiN Gaming
Torcida da LOUD em Recife, recepcionando os jogadores da LOUD no aeroporto, para a Grande Final, contra a paiN Gaming – Fonte: Reprodução

Quem acompanha o CBLOL, conhece da rivalidade da paiN e LOUD. As equipes se encontraram três vezes em grandes finais, disputando títulos e muito mais. E a rivalidade não é apenas no servidor. As torcidas gostam de se provocar bastante, com gritos e tudo mais. Contudo, existe, acima de tudo, muito amor, respeito e carinho envolvido.

Um dos casos bons para se mostrar, foi na Grande Final, do primeiro split de 2023, onde a paiN perdeu novamente para a LOUD. Os torcedores da paiN estavam desolados, chorando e revoltados com o time. Então, com uma ação muito nobre, torcedores da LOUD, inclusive a Jojo, foram acalentá-los.

Eu acho que nós, que frequentamos a Arena CBLOL sempre, construímos esse lado humano das torcidas. No início, eu ia sozinha e aos poucos fui interagindo com pessoas, que não necessariamente eram da LOUD. Eu ficava torcendo e no meio da torcida de outros times, que é algo comum por lá. Por conta disso, as amizades começaram a ser formadas e só foram crescendo.

A gente está ali, gritando um na cara do outro, mas depois a gente tá saindo, tá conversando. Acabamos nos tornando amigos, porque a mesma intensidade que a gente tem para torcer, é a mesma intensidade que a gente tem fora do jogo. Por isso que acabou acontecendo esse caso da final.

Na época, eu nem imaginava que seria um 3-0, mas confiava no time. A medida que o jogo foi passando a vitória era mais clara e eu estava vendo como os torcedores da paiN queriam ganhar. Era muito mais que uma vitória, era algo para conseguir provar que a equipe conseguia.

Aí, quando eu olhei para o lado, no fim do segundo jogo, vi vários amigos meus, da paiN, chorando. Na hora, eu estava muito alegre, pulando de um lado para o outro, abraçando todo mundo, gritando. Porém, algo me tocou e pensei: ‘Eu preciso ir lá’. Na hora que eu desci, vi várias outras pessoas indo junto, confortando outros torcedores.

Tudo que eu podia fazer, estava tentando. Queria dar um ar de esperança. Mesmo sendo rivais, somos amigos. No fim, quando tudo acabou, fomos pro lado de fora da Arena e ficamos abraçados. Essa cultura, eu sei que é exclusiva dos Esports. Nunca que vamos ver isso em uma partida de futebol, por exemplo.

A comunidade dos Esports foi criada para essas conexões. Eu sinto que as pessoas têm mais esse lado humano. Não precisa ter essa rivalidade tão grande, ao ponto de perder amizades. Enquanto o jogo ta rolando, enquanto o Nexus ainda não caiu, estamos gritando, xingando. Depois, estamos conversando, indo para o bar, dar umas boas risadas.