Hoje conversamos um pouco com Fernando “F10” Diez, CEO e fundador da Leviatán, organização relativamente nova, que conquistou o Top 8 na última Valorant Champions com um time cheio de nomes conhecidos e que, segundo o dono, ainda vai conquistar muito mais.
Reprodução: Leandro Buglioni
A Leviatán foi um dos times que mais cresceu nos últimos dois anos no cenário competitivo latino-americano. Formada, a princípio, de outra empresa, a Aftech, a organização argentina chegou no topo do mundo muito rápido, competindo, por exemplo, no American RMR de CS desse ano e conseguindo uma vaga para o novo sistema de franquias de Valorant a partir do próximo ano, com LOUD, Furia, MiBR, Sentinels, 100 Thieves, entre outros nomes.
Nessa entrevista, perguntamos ao fundador alguns dos pontos principais desse caminho, como empresa e como time, e quais serão os seus próximos passos para levar a Lev para a boca de todo mundo.
— A Leviatán, como time, teve bastante sucesso nesse ano, e é interessante considerar que a Lev é um time bem novo. Quais foram os principais fatores que levaram a esse sucesso?
— Acho que o principal fator é o grupo humano e os recursos que temos na organização. Temos grandes profissionais no time, e a presença deles faz com que o time seja, em si, mais profissional, valha a redundância, e assim possamos atingir os objetivos da melhor forma possível.
Óbvio que às vezes as coisas saem de maneira diferente ao esperado, como aconteceu, por exemplo, com a queda frente a Incubus no regional de LoL, mas é isso. Estar cercado de pessoas talentosas faz com que as coisas boas aconteçam com mais frequência.
— E com quantas pessoas vocês trabalham agora na Lev?
— Atualmente são 103 pessoas, entre jogadores e staff da parte empresarial. Somos vários.
— Eu queria saber um pouco sobre a sua opinião, no Valorant especificamente, sobre o sistema de franquias. Como foi toda a questão da preparação para o sistema? Em algum momento você te sentiu nervoso com relação aos slots? Queria saber como foi isso tudo para você, como dono, e para a Leviatán como time.
— O processo foi longo e intenso, porque eles têm que escolher os parceiros corretos, sendo uma liga tão importante. Eles pedem mil requerimentos, em mil ocasiões diferentes, mas mesmo assim, com toda essa intensidade, acho que fizemos um grande trabalho. Conseguimos cumprir com todas as áreas que eles pediram, desde comunidade, finanças, mesa de sócios e parte esportiva. Acho que fizemos ótimas apresentações, bom material preliminar e entrevistas cara-a-cara, com nomes grandes dentro da Riot, onde nós conseguimos nos desenvolver bem, então eu sempre tive muita fé no nosso trabalho.
Obviamente teve um nervosismo, porque por ser um time novo, talvez nós não tivéssemos uma fanbase de times gigantes que estavam competindo conosco como, por exemplo, a Faze Clan, então era ir para frente e arrasar! Acho que nós conseguimos isso, apresentamos planos bem sólidos, mas depois disso já dependia deles (Riot).
Sempre tivemos fé de que nós não guardamos nada. Claro que o nervosismo estava ali, mas entendendo que havíamos dado tudo que o que podíamos, eu tinha a tranquilidade de saber que se não nos escolhessem, não era porque faltava alguma coisa, mas porque eles queriam algo diferente. Foi bem difícil, envolveu muitos meses de trabalho. Mas quando nos disseram que estávamos dentro foi uma alegria imensa. Acho que esse tipo de liga será ótima para o ecossistema atual.
— Imagino que deve ter acabado o estoque de champanhe do supermercado.
— Hahaha, sim. Fizemos um brinde bonito, um almoço com a alta cúpula da Lev. Essa indústria não te dá tempo de festejar muito. No dia seguinte já é necessário estar preparando os próximos desafios. Isso é algo que estávamos conversando uns dias atrás: agora que fizemos dois anos de vida, pouquíssimas vezes tivemos tempo para respirar ou parar para festejar. Apesar de tudo que fizemos e os sucessos alcançados, sempre estamos tentando chegar mais longe e pensando nos próximos passos.
— Depois do “estamos dentro”, aconteceram grandes mudanças organizacionais no time? Como a Leviatán mudou ao entrar na franquia?
— Obviamente mudamos. Tínhamos planos de expansão aos Estados Unidos, mas muito mais para frente, a longo prazo, e como as coisas aconteceram tivemos que contratar gente especializada que pudesse estar trabalhando de lá. Tivemos que procurar um lugar para morar, um preparador físico, um nutricionista, então é adiantar muitos processos, mas, para isso, nós estávamos preparados quando fizemos o nosso plano.
Mas sim, obviamente aconteceram mudanças com novas pessoas, novos recursos, novas formas de comunicar as nossas coisas nos Estados Unidos. Muitas mudanças, mas, para elas, estávamos muito bem-preparados. Principalmente mudanças estruturais em todas as nossas disciplinas e em todas as outras partes da organização.
— Eu queria saber um pouco mais sobre o time de Valorant. O processo de contratação de vários jogadores e a comissão técnica que antes estava na KRÜ. Como vocês chegaram nesses nomes? Como vocês decidiram “sim, por aqui é o caminho”, que, claro, levou vocês a um sucesso expressivo na Champions algumas semanas atrás? Queria que você me contasse um pouco sobre isso.
— Quando a Australs se dissolveu, nós demos o braço a torcer para absorver o projeto inteiro. Foi um grande primeiro passo, mas quando o Onur sai da KRÜ e a contratação com a LOUD caiu, nós vimos a oportunidade. Ele era um cara que, naquele momento, terminou na quarta colocação no mundial, que eu conhecia desde a sua carreira no LoL e, ainda por cima, tinha grandes referências botando a mão no fogo por ele e pela metodologia de trabalho dele. Por isso, nos demos conta que ele era a peça-chave.
Naquele momento conversamos com ele para que ele assumisse como General Coach, para trabalhar com todas as nossas disciplinas, mas como o coach que estava conosco naquele momento tomou a decisão de não continuar, nós chegamos à conclusão de que ele era a pessoa indicada. Falamos com o Onur, tivemos uma reunião bem rápida e eu, na realidade, quando contrato um coach, dou a chave mestra do projeto.
A pessoa que deve escolher as peças e a metodologia de trabalho é ele. Nós não nos metemos muito na parte esportiva, dos jogadores e tal, quando temos um coach. Sempre demos liberdade a ele de fazer as mudanças que ele achava melhor, e que fossem viáveis para nós. Caso ele pedisse para comprar um jogador de cinco milhões de dólares, nós não teríamos a capacidade para concretizar algo assim, mas, de qualquer maneira, fizemos grandes investimentos, como, por exemplo, trazer o Nozwer da Furia, para ter a convocação que o Onur queria para os próximos campeonatos.
— Queria tocar na questão da Leviatán Academy. A Lev é um dos primeiros times sul-americanos em ter um projeto assim, e que até agora está indo muito bem. O Shyy, por exemplo, foi promovido direto da Academy. Como funcionou o processo para abrir o Academy e quais são os resultados esperados?
— Acreditamos ser fundamental preparar os jovens para serem os futuros profissionais. Sempre vão existir jogadores espetaculares mecanicamente, mas para ser profissional, isso não é suficiente. Sempre nos interessou formar jovens e por isso abrimos as três Academys — CS, Valorant e Freefire — e a ideia é que, esses jogadores, joguem para nós no futuro. Além disso, vendo a parte dos negócios, emprestar ou vender jogadores será muito importante em breve.
Nós apostamos forte na Academy por isso: buscamos pessoas bem jovens que tenham grandes capacidades. Estamos bem orgulhosos dos resultados que tivemos até agora, e queremos que essa rapaziada, que hoje em dia tem 13 ou 14 anos, quando chegar na idade de competir de verdade, possa ser alguns dos melhores do mundo. Por isso, continuaremos apostando neles e abriremos algumas outras Academys. Temos planos de abrir uma de Valorant para a região LAN, por exemplo, e assim continuar desenvolvendo talentos futuros.
— No Brasil ainda não?
— No curto prazo ainda não desembarcaremos no Brasil. Projetamos nos próximos dois anos começar a competir no Brasil e daí criaríamos Academys lá também. Mas, por enquanto, o nosso foco é ser O time latino-americano.
— Falando de ti como empresário: Você já era dono da Aftech, uma empresa de tecnologia de sucesso no contexto local. Por que o passo em direção aos esports? Qual foi o “click” para começar a investir em esports?
— Sou gamer desde que nasci e eu sempre gostei muito da parte competitiva. Em 2008, por exemplo, eu competia no PES. Sempre quis ter um time, mas por questões da vida, trabalho e empresa, não tinha o tempo necessário para realmente começar o projeto. Era algo que sempre estava ali, em algum canto da minha cabeça. Então quando começou a pandemia e tudo parou, eu voltei a jogar muito, Warzone principalmente, e em vez de só jogar por diversão, procurei uma maneira de canalizar essa energia em algo mais produtivo, e tomei a decisão de começar a idealizar o time.
— Quais são as maiores dificuldades ao investir em esports na America Latina, na sua opinião?
— Existem muitas, mas duas são principais. A primeira é a falta de apoio econômico de empresas. Acho que na América Latina, por questões políticas e econômicas, não é tão simples que as empresas coloquem o dinheiro necessário para manter estruturas de alto rendimento. Aspiramos ema ser os líderes esportivos, o que tem gastos bem altos tanto no começo, quanto no nível pessoal. Então, conseguir o dinheiro por parte dos patrocinadores é complexo. Por outro lado, outro grande problema é que faltam profissionais qualificados. Faltam especialistas como fisioterapeutas para esports, advogados para esports, etc. Portanto, conseguir as pessoas adequadas para todos os postos também é difícil. Fico feliz de dizer que, atualmente, me orgulha bastante o grupo de trabalho que nós criamos.
— Quanto demorou para que a Leviatán que já começou com o apoio de uma empresa grande, a Aftech, seja rentável no contexto de vocês?
— Hoje a Leviatán não é rentável. Segue tendo apoio privado; nós não temos superávit. O nosso plano apontava a chegar ao ponto de equilíbrio econômico no ano três, e nós estamos perto de chegar nesse objetivo já no próximo ano, ou até adiantar um pouco, mas, hoje, a Lev continua não sendo rentável.
— Como você se sente ao ser parte da primeira geração de grandes times de Valorant na América do Sul? Querendo ou não, Valorant é um jogo bem novo, e agora com vocês na franquia, já fizeram história no game.
— É um orgulho inacreditável ver a maneira como tudo se resolveu. Eu ainda acho que poderíamos ter feito um pouquinho mais. Poderíamos ter ganho da LOUD na Champions, mas é muito bonito ver todo o caminho que percorremos e é uma responsabilidade enorme. Que não fique tudo só no “já fizemos”, mas também no “vamos fazer”. É importante não viver no passado, no que já está feito, e mostrar que cada dia queremos mais. Espero que isso esteja claro para todos os que veem de fora, com as contratações que fizemos e com todos os nossos planos. Tudo isso é só o começo.
— Em relação aos demais jogos, qual é o processo para abrir o investimento para os outros times, como é o de Rocket League, de CS ou o de LoL? Qual é o método para decidir “aqui sim” ou “aqui não”?
— Nós analisamos muitas variáveis, como comunidade, desenvolvedora do jogo, etc. Estudamos muitos pontos para ver se realmente é um jogo onde deveríamos estar. Então, se tem bons campeonatos, tem uma comunidade interessante, e temos potencial de ser top na região — porque, para mim, entrar em um jogo é brigar por todos os campeonatos importantes —, tomamos uma decisão. Se todas as estrelas se alinharem, é provável que entremos. Também existem casos de desenvolvedores como a Riot, por exemplo, que eu vou acompanhar para onde forem. Sei que, quando sair o Valorant Mobile, investirei alguma coisa por mais que no longo prazo não funcione, porque sei que a Riot faz campeonatos, dá uma agenda clara, apoia os jogos novos. Eles te convidam a investir desde o dia 0, como fizemos com Wild Rift ou Valorant. Cada jogo tem variáveis diferentes, tudo depende do caso específico.
— Por último, quais são os planos para o ano que vem? E uma exclusiva para nós da Esports.net, sob tua conta e risco.
— Nossos planos são continuar crescendo. Temos um foco muito claro no Valorant em Los Angeles, competiremos também na LVP (LoL) do México. Também é muito provável que abramos um time importante de CS na Argentina. Uma exclusiva para vocês é que, muito provavelmente, vamos abrir em breve uma Gaming House em um país da América Latina onde hoje ainda não temos presença para o time feminino de Valorant.