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Carlão conversando com os jogadores da FURIA, no intervalo entre os mapas
Carlão conversando com os jogadores da FURIA, no intervalo entre os mapas – Fonte: Reprodução/VCT Américas Flickr

No VCT Last Chance, os brasileiros sofreram bastante, com a eliminação das duas equipes brasileiras bem cedo. Tanto a MIBR, quanto a FURIA, foram eliminadas pela KRÜ Esports, dando adeus a chance de uma vaga no Champions 2023. Ao fim do jogo da FURIA, Carlão, técnico da equipe, concedeu uma entrevista exclusiva, contado sobre a derrota e o processo que a FURIA tem passado, desde a sua fundação.

A FURIA vem sendo uma das equipes que mais passou por um processo evolutivo. Durante o VCT Américas, a equipe chegou mais madura, com um crescimento bem notável. Inclusive, na entrevista, Carlão relembrou momentos da equipe e a evolução da mesma. Desde o surgimento, com o qck e mazin até a chegada do mwzera, para o VCT Américas. Confira, com detalhes, logo abaixo:

“Nós não desaprendemos como jogar ou abaixamos o nosso nível”

Antes de começar, no intuito de facilitar a leitura da entrevista, disponibilizamos abaixo um vídeo com a entrevista. Além do vídeo, teremos a entrevista por texto, para atender todo o tipo de gosto.

Falando primeiramente sobre a partida contra a KRÜ Esports, vimos a FURIA dominando o jogo em muitas partes. Contudo, algo parecia não ter se encaixado bem. Algumas pessoas questionaram se era por conta da entrada do kon4n ou se era mais um quesito da evolução da KRÜ. Carlão disse o seguinte:

Então, a KRÜ, com certeza, melhorou muito como uma equipe. Isso é fato. É bem nítido assim, mas ainda vejo que tivemos uma boa preparação. Tivemos um tempo bom para se preparar, conseguimos fazer bons treinos. A gente, FURIA, estávamos com um nível muito bom.

Realmente, foi algo onde a gente acabou não conseguindo aplicar dentro do servidor. Ainda mais quando a gente compara com os nossos treinos. Frequentemente, conseguimos aplicar um ritmo bom nos treinos. Tanto que, no primeiro mapa, a gente começou com uma vantagem também.

Estava bem tranquilo, mesmo a gente dependendo de um defuse milagroso do mazin, ali para a gente conseguir voltar na partida. Se eu não me engano, a gente tinha conseguido abrir um placar de 9 a 5. Ou seja, um jogo tranquilo e bem controlado, tava na nossa mão. Na Ascent, nós tivemos um apagão total, tanto que eu nem vou usar ele muito como base.

Então, na Bind, principalmente, a gente estava com vantagem na maioria dos rounds. Se for parar para rever, a gente conseguia controlar bem o mapa, ficávamos em vantagem, mas de alguma forma, estávamos perdendo rounds importantes. Não quero nem colocar muita desculpa, porque o kon4n entrou, estava muito tempo parado. Para mim, a gente se preparou muito bem, para chegar e conseguir colocar um um jogo melhor do que a gente apresentou na fase regular.

E o que me frustra mais é isso. Nós não vamos ter mais condição de mostrar o quanto a gente evoluiu como a equipe. Principalmente, com a entrada do kon4n. Não vamos saber sobre a sua evolução, porque não temos mais nenhuma outra chance aqui no LCQ.”

Como já foi dito anteriormente, a participação do kon4n, no jogo do Last Chance, foi por conta do qck. O jogador precisou vir para o Brasil, por conta de alguns problemas pessoais. Com isso, ele não teria tempo de voltar e participar dos treinos. Tentando entender melhor, Carlão contou como foi a tomada de decisão e há quanto tempo eles sabiam que isso iria acontecer:

“Então, o kon4n estava sempre preparado para entrar, em qualquer momento que fosse. Porém, a situação do qck foi um problema pessoal e aconteceu na nossa semana de folga, após o fim dos playoffs, do VCT Américas no caso.

A gente tirou uma semana para descansar e o qck acabou pedindo para resolver alguns problemas pessoais que ele teve, lá no Brasil. E aí foi nessa semana que a gente viu que ele não iria conseguir voltar para a preparação. Com isso, a gente acabou efetuando o kon4n na equipe, exatamente por causa disso. E aí, com isso, nós tivemos algumas mudanças de funções.

O mwzera acabou indo jogar de sentinela, enquanto o kon4n foi para iniciador, uma função que ele fazia lá na TBK. Então, foi um pouco de surpresa sim, mas o kon4n já estava preparado. Até porque a gente já estava com o plano de o deixar preparado para assumir em qualquer situação.

qck e Carlão, durante o jogo da FURIA contra a KRÜ Esports, pelo VCT Last Chance Américas
qck e Carlão, durante o jogo da FURIA contra a KRÜ Esports, pelo VCT Last Chance Américas – Fonte: Reprodução/VCT Américas Flickr

Na entrevista feita com o kon4n, o jogador já falava que ele participava bastante das rotinas da equipe. Além do mais, a sua experiência ajudava demais, trazendo um novo ar para os jogadores. Uma das maiores características do kon4n é trazer muita informação dentro de jogo. Carlão comentou um pouco sobre a sua função no time, se chegava a ser como um Second Caller:

O kon4n, com todo certeza, é um cara bem comunicativo. Ele é um jogador que gosta muito de ajudar, principalmente o IGL dentro do jogo. É algo natural dele assim, ele é um cara que tipo vê muito detalhe no jogo e sempre tenta dar essa segurança para os jogadores.

Hoje, na nossa composição, o mazin é o nosso IGL e o mwzera é o Second Caller. Com a chegada do kon4n, ele passou a ter uma voz poderosa no jogo. Seu estilo de jogo é de estar no dentro do bloco, conseguindo ter uma leitura mais rápida do que está acontecendo.

Com essa mudança do mw para sentinela, ter o kon4n como iniciador, acabamos usando bastante dessa comunicação por blocos. O sentinela costuma ficar mais isolado, jogando no retake, enquanto o iniciador está mais na frente, ajudando nas aberturas de bombs.

Exatamente isso que você falou mesmo, o kon4n é um cara muito comunicativo, ele é um cara que tipo tem um suporte diferencial. É algo na personalidade dele mesmo. Não é algo apenas dentro de jogo, vem desde a nossa convivência. Então, ele conseguiu ajudar em todos esses aspectos.”

Por conta desse formato, a FURIA já se desclassificou do VCT Last Chance Américas. Com isso, a equipe agora tem algumas decisões para se tomar. A equipe pode tomar duas decisões: tirar uma folga e voltar para o Brasil ou aproveitar a chegada do Champions e usar a oportunidade para treinar com times do mundo todo.

“Então, como foi uma derrota muito recente, eu nem tô muito focado no que a gente vai fazer agora. No momento, estou esperando a hora que vamos chegar em casa e conversar com quem eu tenho que conversar, para podermos analisar as nossas opções. Temos que analisar, com cuidado, os nossos próximos passos. Contudo, temos nenhum planejamento no momento.”

Carlão na sua sala de treinador, durante o VCT Last Chance Américas
Carlão na sua sala de treinador, durante o VCT Last Chance Américas – Fonte: Reprodução/VCT Américas Flickr

Finalizando a entrevista, Carlão contou um pouco mais sobre o crescimento da equipe, principalmente falando do amadurecimento. Com jogadores bem novos, uma das coisas que mais se ouvia da FURIA era que o projeto precisava de tempo. Depois que esse tempo passou, com a chegada das franquias, uma nova FURIA surgiu.

Além de uma equipe mais madura, vemos jogadores que trazem um perfil diferente para o time. Ainda sobre isso, Carlão falou sobre as cobranças em cima dos jogadores, por conta de performance.

“Então, pegando desde o início, quando a gente começou com o projeto da FURIA, eu comecei, no caso, escolhendo as peças, que a gente via que tinha bastante potencial para ser lapidado. Basicamente, entre os dois primeiros anos ali, a gente foi pegando cada vez mais experiência.

No primeiro ano que a gente conseguiu ir para o Champions e foi um ano onde a gente pegou muita experiência. Principalmente porque o Khalil e o qck tinham 16 anos na época. Então, o processo de maturação dos meninos precisava ser um pouco mais longo. Porém, eu acredito que a gente conseguiu bons resultados, tendo em vista que era a primeira experiência profissional de ambos.

Eles não eram profissionais, lá no primeiro ano que a gente montou o projeto. O qck jogava Fortnite, por hobby, nem tinha uma visão tão profissional. Do outro lado, o Khalil jogava Minecraft, antes de entrar na FURIA. Eles eram destaque nas filas ranqueadas do VALORANT, mas sem nenhuma experiência profissional.

Então, observando que no primeiro ano a gente conseguiu quase bater na porta do Masters e ir para o Champions, foi basicamente tudo que eles precisavam para ter o processo de amadurecimento e como que é uma vida de um atleta profissional. Por besteira ali, a gente acabou não passando da fase de grupos, no primeiro ano.

Pegamos um grupo difícil, que tinha a Sentinels e a própria KRÜ, que acabou nos eliminando da competição e pegando o top 4 do mundo naquele ano. Então, nesse primeiro ano a gente conseguiu pegar muita experiência, tivemos a adição do mazin também. No segundo ano, o qck teve aquele infeliz acidente e o AbleJ chegou para completar o time. Então, a gente ficou boa parte do ano sem conseguir colocar o ritmo que a gente gostaria.

Ainda tivemos a chegada do dgzin, no finalzinho do VCT Last Chance, onde nos classificamos para o Champions, novamente. Tivemos muitos momentos no campeonato, como aquele histórico 12-4, onde tomamos aquele comeback absurdo. As nossas partidas contra a DRX e Fnatic, que nos ajudaram a moldar.

Então, para esse terceiro ano a gente começou com um time maduro, igual você falou. E chega a ser até engraçado, o quanto que oscila assim as pessoas. Nós começamos a Fase Regular, com todo mundo achando a gente nosso time muito mais maduro. Agora, do nada, viramos um time zero maduro e simplesmente não existe uma transformação de retrocesso assim do dia para noite.

O nosso processo de evolução foi esse. Nós somos um time muito mais maduro. A gente é um time mais casca, tanto que diversas vezes, a gente tava jogando mal um mapa e no outro a gente conseguiu resetar e vim fazer bom jogos. Hoje mesmo foi um bom exemplo. Tomamos um atropelo na Ascent e chegamos resetados para a Bind.

Era para gente ter sido um jogo tranquilo para gente, pegamos muita vantagem, mas falhamos na parte de finalizar. Era para gente ter conseguido dar uma snowbalada, ter feito mais pontos na defesa e, consequentemente, vencer dois clutchs ali. Com isso, conseguiríamos ter ganho a série. Seria uma outra história, íamos jogar outro jogo depois e iria ser dito outra coisa sobre a gente.

Então, o nosso nível de maturidade não oscila do zero ao cem. Nós somos um time que vai aprender a amadurecer cada vez. Principalmente nesse processo aqui fora, onde nós estamos jogando contra os times mais fortes. Estamos com uma FURIA time mais experiente e eu sei que a gente conseguiu botar isso em jogo.

Temos mais maturidade, muito mais conhecimento, muito mais adaptação no nosso jogo, muito mais leitura. Evoluímos bem como uma equipe, mas no dia de hoje, infelizmente, não conseguimos pôr em prática. Isso é bem frustrante, não só para mim, mas para cada jogador. Acabou que não conseguimos colocar em prática o nosso jogo e não vamos mostrar uma melhor versão do nosso time.

Não vou falar que isso faz parte, porque 1 em 1 milhão que acontecem algumas coisas, mas o esporte é assim, não só o esporte eletrônico, mas o esporte profissional também. Existem momentos onde não tem como explicar como as coisas acontecem. Nós entregamos rounds que com certeza todo mundo sabia que não é para gente entregar assim.

Nem precisa ser um expert para conseguir enxergar os nossos erros, mas nem por isso que deixamos de ser um time maduro. Nós crescemos muito como equipe, amadurecemos muito, porque não estamos mais na liga regional, o VCB. Estamos competindo com os 10 melhores times das Américas. Os melhores do Brasil, LATAM e dos Estados Unidos.

Não estamos competindo com vários times de diferentes níveis, mas com os melhores, que possuem o mesmo nível. Nós não desaprendemos como jogar ou abaixamos o nosso nível. Dias como hoje acontecem, é frustrante, mas isso serve como um processo. Vamos estar mais preparados e sinto que ficamos mais preparados para momentos como esse.

Infelizmente, faz parte do jogo, do esporte, essa derrota ou apagões. Contudo, independente do que aconteça, vamos voltar como um time mais maduro e melhor. Toda a trajetória vai servir de aprendizado e vamos mostrar que merecemos o local onde estamos.”