Esta é a segunda parte da entrevista feita com a Dani Coelho, manager da Team Liquid BR de VALORANT. Aqui, foi conversado sobre assuntos mais relacionados a equipe de VALORANT. Foram abordados temas como a relação entre as outras lines, mudanças da equipe e pressão por resultados. Caso tenha perdido a primeira parte, recomendamos ler ela antes. Para acessar ela, basta clicar aqui e conferir!
Jogadores profissionais se cobram muito
Normalmente, quando uma organização possui lines de diversos jogos, é comum ter uma certa troca de informação. Hoje em dia, a Liquid possui line em diversos FPS – Rainbow Six, VALORANT, Free Fire e Fortnite. Dani comentou se existe essa troca de ideia entre as lines, como funciona e outras informações:
“Sim, nós temos bastante parceria e amizade com as outras lines. Na nossa antiga GH, dividíamos o espaço com os meninos do Free Fire, então acabava que o nosso maior contato era com eles. No fim, a gente sentia uma falta de ficar mais próximos, interagir com as outras pessoas.
Porque, quando estamos juntos, encontramos no café da manhã e conversamos alguma coisa, trocamos uma figurinha, estamos cara a cara ali. Isso é muito importante, ajuda no crescimento do time e pessoal. Vivemos coisas semelhantes e um problema que alguém está passando, pode ter passado por outra pessoa.
Além do mais, são várias lines, em modalidades diferentes de FPS. Então, uma coisa ou outra acaba sendo parecidas. Tipo, um cara ali é IGL de Rainbow Six, como ele dá as calls? Como pode acrescentar ao time? Ao estar juntos, essas coisas facilitam demais. São coisas que, se não estivéssemos no mesmo ambiente, dificilmente iriam acontecer.
Antigamente, eram raros os momentos que a gente encontrava os meninos do Fortnite. Agora, eles estão morando, stremando, treinando e competindo tudo aqui no Facility. Direto, no fim do dia, a gente sobe no último andar e encontramos várias pessoas ali. Vira um momento de descontração.
Muitas pessoas dizem que a Liquid parece uma grande família. E eu sinto que é isso mesmo. Todo mundo se importa com todo mundo, desde o Rafa até a pessoa lá da portaria. Por exemplo: Teve um dia que eu estava doente, não estava muito bem. Eu desci na portaria, para pegar umas compras e o porteiro viu como eu estava pálida. Na hora, ele perguntou como eu estava, se precisava de algo.
São pequenas ações que mostra como todo mundo se importa com todos aqui dentro. É um movimento bem raro de se ver em locais de trabalho. Isso acaba dando uma vontade de querer mais e torna a nossa convivência bem mais gostosa. O Facility veio para nos unir e está entregando muito mais que isso.”
Agora focando no time brasileiro de VALORANT, um assunto sempre é levantado – pressão por resultados. As meninas vêm dominando o cenário inclusivo, conseguindo título atrás de título. Claro que, com isso, deve existir uma cobrança interna e isso pode afetar o mental das jogadoras. Dani comentou como é o trabalho em cima disso e como as jogadoras trabalham com isso:
“Jogadores profissionais se cobram muito. Não estou dizendo apenas das meninas do VALORANT, aqui da Liquid, mas em um geral. Todo jogador quer ganhar, esse é o objetivo dele. Ninguém quer pegar segundo ou terceiro lugar. Eu até brinco que se você perdeu um jogo e não está triste com isso, tem alguma coisa muito errada.
Então, eu acho que os jogadores, em si, eles já têm uma cobrança externa muito grande. Devido ao que eles buscam mesmo. É uma cobrança do tipo: ‘Eu quero ser o primeiro. Eu quero ganhar um mundial’. Ou seja, é aquela cobrança de que precisamos fazer o melhor todo dia.
Agora pensando de afetar a mente dos jogadores, eu acho que a gente tem que sempre pensar se essa cobrança tá sendo feita do jeito certo e como ela tá sendo feita. Então de forma individual, quando o player tá se cobrando, é como você tá fazendo essa cobrança. Você está dando condição de melhorar ou você só tá cobrando e o colocando para baixo?
Existem formas de se cobrar. Você não pode chegar e ficar se culpando, falando coisas negativas, como ‘eu sou burro’ ou ‘eu não consigo aprender nada’. A cobrança é necessária para conseguir evoluir. Você chega e perde um jogo, a cobrança tem que ser em cima dos motivos da derrota. O que pode ser melhorado na próxima partida? Quais foram as ações que nos levaram a derrota?
O meu estilo de cobrança é nesse estilo. Vejo que o processo de melhora de um jogador começa internamente e depois vai moldando. Junto a isso, acredito que o estilo da Liquid de trabalhar vai em encontro com o meu modo de trabalhar. Pelo menos eu gosto de pensar que, quando acontece alguma coisa, nosso modo de trabalhar é como podemos melhorar o nosso processo.
O que que a gente pode fazer diferente? Até porque não é só responsabilidade do player. Então eu como manager e a equipe técnica, temos que pensar em como que a gente pode melhorar. Para dar uma condição melhor para as nossas jogadoras também, principalmente porque a gente joga junto.
Com isso, tem o outro lado. Se a gente perde um jogo, não são apenas as meninas que perderam o jogo. Nós somos um time, então a gente ganha junto, nós perdemos juntos também. Se a gente perdeu, temos que pensar no que podemos melhorar como um time. Não é só cobrar do jogador.
Então acho que tem muito disso, como que a gente pode melhorar e o que podemos fazer de diferente. Isso foi algo que pensamos muito depois do ano passado. É claro que a gente teve várias vitórias, durante o ano anterior e elas foram ótimas para nós, mas as derrotas doem.
Com isso, tivemos que olhar para essas derrotas como pontos para melhorar a equipe. Encontrar uma forma de melhorar, o que podemos fazer de diferente. É uma conversa que nós temos sempre com equipe técnica. Basicamente, conversamos sobre o que vamos melhorar nesse processo, se fizemos alguma coisa e foi muito atropelado. Como que a gente melhora isso, então é sempre esse é o pensamento.”
Quando a Liquid anunciou as mudanças na equipe, muitos ficaram se questionando se a decisão era correta. As jogadoras conseguiram terceiro lugar no primeiro mundial inclusivo, fora todos os títulos no Brasil. Contudo, o resultado voltou a aparecer, com mais um título e uma performance ainda melhor. A manager da equipe contou como foi a chegada das novas jogadoras:
“Eu acho que foi uma mudança forte mesmo. Querendo ou não, mudou totalmente o jeito do time. Toda mudança que você faz em um time vai trazer diferença. Eu acho que as meninas novas se adaptaram muito bem, rapidamente. Porque a gente também sempre dá aquele tempo para adaptação.
Temos que dar um tempo para que todo mundo se adeque a mudança. Cada pessoa é diferente. E esse tempo foi ótimo, porque elas adaptaram muito rápidas. As jogadoras compraram muito muito fácil a ideia da metodologia do Palestra. Todas elas seguem o mesmo caminho, que torna as coisas bem mais fáceis.
Então, mesmo estando em um processo de adaptação, as meninas se esforçaram demais. Elas vieram com muito gás, bem dispostas a se adaptar a qualquer custo. Outra coisa que eu acho que pode ter ajudado, é que gente nunca pensa nos jogadores como substituições. É uma nova equipe, outro pensamento, um tipo de diferente de se jogar.
Esse é um novo time. E temos que aprender como que é esse time novo vai jogar. Porque, às vezes, eu vejo muitos times fazendo mudanças e desconsiderando que são novos jogadores. Muitas pessoas esperam que um novo jogador faça exatamente o que o outro faria.
Posso dizer que agora somos uma na Liquid e vejo que está sendo um processo positivo. Exigiu muito esforço delas e ela se empenharam demais. Então, eu concordo acho que tava todo mundo esperando que fosse dar uma baixada nos resultados. Eu não queria dizer foi muito fácil, até porque teve os seus problemas.
Às vezes a gente não pode contratar só habilidade. Você tem que pensar no perfil pessoal também, se tá encaixando ali, naquele time. Tem a questão de personalidade também. Temos que ver como vai ser a interação entre os jogadores.
Isso foi outra coisa que deu muito certo com a nossa line nova. Buscamos encontrar jogadoras com perfis que pudessem se encaixar e contribuir com a nossa metodologia. Nós pensamos em muitas coisas, mas acho essa composição acabou encaixando e dando certo.
Assim, por mais que você às vezes conversa com as pessoas, precisamos realmente conhecer elas. Tivemos várias reuniões com as meninas, as novas e as que já estavam na Liquid. Tinha algumas jogadoras que a gente já conhecia do cenário e algumas das meninas daqui, já tinham jogado em alguma partida ranqueada.
Então tudo isso foi ponderado, desde como que essa pessoa vai reagir para receber uma informação nova até em como ela é para aprender algo novo. Tem a questão da habilidade em jogo e se ela encaixa no que nós planejamos para a equipe. Outra coisa, tivemos a participação dos psicólogos também. Eles participaram das reuniões, para gente conhecer as meninas, para ver se os perfis também faziam sentido.”
No ano passado, tivemos o primeiro campeonato mundial de VALORANT inclusivo, onde a G2 Gozen foi a grande campeã. A Team Liquid BR conseguiu fazer uma campanha sensacional, chegando a terceira colocação. O campeonato foi um grande fenômeno, tanto que anunciaram que o mundial será recorrente.
Dessa vez, o país escolhido foi o Brasil. Ou seja, é vai ser o terceiro evento recebido pelo nosso país de VALORANT. Tivemos o LOCK//IN, no início do ano, teremos o VCT Ascension e por fim o Game Changers Championship. A Team Liquid está no caminho de conseguir a classificação e participar, pela segunda vez, do campeonato. Dani Coelho contou como estão as expectativas de ter a chance de se classificar novamente. Além de receber um campeonato, desse nível, no Brasil.
“Foi muito engraçado, porque quando a gente descobriu que ia ser no Brasil, uma das meninas falou assim: ‘Ai, mas eu queria viajar’. Só que logo em seguida ela acabou sendo mais racional e caiu a ficha que seria no Brasil. Tipo, quem se classificar vai estar com a torcida, porque o ano passado a gente foi para o mundial e tinha só o pessoal da Europa.
Acho que tinha uns brasileiros que conseguiram ir também, que foi muito legal. Só que assim, no dia que a gente jogou contra G2, a torcida era só deles. Acho que tinha umas três pessoas lá, torcendo para gente. Então acho que vai ser algo muito diferente, da gente ter finalmente a torcida aqui.
Aliás, espero que a gente conquiste a vaga aí. Até porque, nada tá certo ainda. Temos que pacientes e buscar uma conquista de cada vez. Porém, acho que isso vai ser ótimo, para quem que se classifique. Ter essa torcida ao nosso favor vai ser algo inesquecível, igual quando tivemos o LOCK//IN.
É claro a gente gostaria que fosse um lugar maior, onde desse para todo mundo ir. Contudo, faz sentido, se for parar para pensar no ano passado. O Game Changers também foi no estúdio, com uma plateia menor. Além disso, acho que, caso o campeonato traga um retorno positivo, talvez melhore os próximos.
Eu realmente espero que melhore, que a gente tenha mais vagas, que seja um campeonato um pouco maior, com uma estrutura maior. Ele já é bem estruturado, mas acho que tem ainda um tanto aí para crescer. Eu venho de uma época que tipo não tinha cenário inclusivo. Então, vendo de outra perspectiva, as meninas já estão conseguindo botar o pezinho no misto.
Elas já estão conseguindo jogar com essas equipes de igual para igual. Eu vejo uma, mesmo que ela esteja lenta, mas a gente está conseguindo evoluir e melhorar. Ainda tem bastante para crescer, tanto como equipe quanto como o cenário em si. É ótimo que eles estejam realmente observando mais o Brasil e trazendo maior visibilidade para o nosso cenário.”